Num país continental como o Brasil, de população superior a 210 milhões de habitantes, cada pessoa produz, em média, 343 quilos de lixo, por ano: no total, cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos.
O número não seria tão impactante para o meio ambiente e a economia, se tanto resíduo fosse reaproveitado ou reciclado. Mas, no Brasil, somente 4% passam por esse processo, segundo a Abrelpe, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Para o diretor executivo da organização não governamental, Menos 1 Lixo, Wagner Andrade, o alto custo da reciclagem, no país, explica a taxa tão baixa.
“No Brasil a reciclagem é uma atividade bitributada. O ICMS que é pago de imposto na produção e confecção desse produto ao ser vendido, é pago novamente quando esse material pós-consumo entra na cadeia de reciclagem e volta para ser comercializado. O que é insano. O que impacta diretamente no custo da reciclagem, fazendo com que muitas vezes ela se torne mais cara do que desenvolver um material a partir de uma matéria prima virgem”.
A falta de reciclagem adequada também prejudica o meio ambiente: 40% de tudo que se produz de resíduo no país é destinado a aterros controlados ou lixões a céu aberto, locais inadequados para a destinação. A professora da Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura da Unicamp, Emília Rutkowski, explica que os aterros, apesar de mais controlados que os lixões, ainda são espaços impróprios.
Ao se tornar resíduo, cada resíduo tem sempre um local, uma destinação correta. Nesse caso, aterro não é uma destinação correta. Aterro, hoje, pela legislação deveria ser um lugar para se destinar simplesmente o rejeito, ou seja, aquele resíduo que não tem mais nenhuma possibilidade de valorização de ser reaproveitado ou de ser reciclado”.
Metade das cidades brasileiras não têm políticas de reciclagem e nem aterros sanitários. Para Wagner Andrade, o primeiro passo para mudar esse cenário é oferecer infraestrutura.
“Esse volume todo de resíduos não está entrando na cadeia da reciclagem. E está sendo enterrando efetivamente essa matéria-prima. A perda é bilionária, empregos que não são gerados, recursos que não são injetados na economia. O primeiro passo é a criação de uma infraestrutura real pelo poder público, pelos municípios do Brasil, para se inserirem nessa cadeia da reciclagem, criando operações de coleta seletiva, colocando caminhões, colocando recursos para que esse serviço aconteça nos municípios”.
Os lixões a céu aberto são a pior forma de destinação de resíduos e ainda estão em metade das cidades do país. O que gera a proliferação de bactérias, a propagação de doenças, contaminação, e causa impactos ambientais, como a contaminação de águas subterrâneas.
Fonte: Agência Brasil